domingo, 16 de abril de 2023

DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE - segundo a teoria Freudiana.

Sigmund Freud (1856-1939) formou-se em medicina na Universidade de Viena, em 1881, e especializou-se em psiquiatria. Em 1915 elaborou o denominado Modelo Topográfico do psiquismo humano, dividindo os conteúdos e as operações da mente com base em serem eles conscientes ou inconscientes. Diferenciou três sistemas mentais, aos quais chamou de: inconsciente e consciente e pré-consciente. O consciente e tudo aquilo que temos percepção de nos mesmos. O inconsciente armazena conteúdos por nos reprimidos. A qualquer momento, através da atenção, podem se tornarem conscientes. O inconsciente designa aquilo que está barrado de penetrar na consciência, reprimido na profundidade do psiquismo. O Pré-Consciente é uma parte do inconsciente, que pode tornar-se consciente com facilidade. Para Freud há conexões entre todos os eventos mentais. Quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente. Uma vez que estes elos inconscientes são descobertos, a aparente descontinuidade esta resolvida. No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disto, há material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. Memórias muito antigas quando liberadas à consciência, não perderam nada de sua força emocional. A maior parte da consciência é inconsciente. Aqui estão os principais determinantes da personalidade, as fontes da energia psíquica, e pulsões ou instintos. Para termos acesso ao inconsciente podemos usar de ferramentas tais como: hipnose, interpretação dos sonhos, actos falhos e transfert. O consciente é somente uma pequena parte da mente, inclui tudo do que estamos cientes em um dado momento. Embora Freud estivesse interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava pré-consciente e inconsciente. Pré-Consciente é uma parte do inconsciente, mas uma parte que pode tornar-se consciente com facilidade. As porções da memória que são acessíveis fazem parte do pré-consciente, ele é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções. Em 1923, Freud dividiu o psiquismo humano, na denominada Teoria Estrutural, em três instâncias: id, ego e superego. De forma elementar pode se dizer que o id consiste nas representações dos instintos, o ego compreende as funções ligadas às relações do indivíduo com o seu ambiente e o superego reúne os preceitos morais e as aspirações ideais. Podemos considerar o id como o componente biológico da personalidade, o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social. Freud acreditava que no psiquismo do recém nascido havia apenas id. O ego se desenvolveria posteriormente no processo de maturação do psiquismo e o superego ainda mais tarde. O id (palavra latina que significa isto) é o sistema original, inato da personalidade, do qual surgem os dois sistemas. É o reservatório de energia psíquica que fornece a força para a operação de toda a personalidade. Está em estreito contato com os processos físicos, dos quais recebe sua energia. O id contém os instintos básicos do sexo e da agressão (também chamados instintos de vida e de morte). Seu conteúdo não está diretamente disponível à consciência. Dizemos que existe num estado de repressão, o que significa que as forças ativas se opõem a sua transformação em conhecimento consciente. Para investigar esse conteúdo e os processos inconscientes, Freud desenvolveu os métodos da associação livre e análise dos sonhos. O id não pode tolerar aumentos dolorosos de tensão. Conseqüentemente, se seu nível aumentar, seja por estímulos externos, seja por excitações produzidas internamente, ele procurará descarregar esta enorme tensão imediatamente, de maneira impulsiva e muitas vezes irracional. Este método impulsivo de redução de tensão, pelo qual o id opera, é chamado o princípio do prazer. Nesta fase o complexo de Édipo e o complexo de castração estão presentes. O complexo de Édipo contém o desejo sexual da criança pelo progenitor do sexo oposto e sua hostilidade para o progenitor do mesmo sexo. No menino, o complexo de castração consiste no medo de que será emasculado pelo pai por desejar a mãe. Ma menina, consiste na inveja dos órgãos genitais mais salientes do homem. Ela também sente ter sido castrada no começo da vida como castigo por desejar o pai e odiar a mãe. Essa sensação é reforçada pela hemorragia que ocorre durante a menstruação. Os dois complexos exercem uma tremenda influência sobre nossos sentimentos e interações, tanto com o mesmo sexo quanto com o sexo oposto, ao longo de nossas vidas. O ego surge porque o id não se torna capaz de satisfazer as necessidades do organismo por meio de transações apropriadas e racionais com o mundo objetivo da realidade. Ele opera de acordo com o princípio da realidade, cujo objetivo é evitar a descarga de tensões do id até que se encontre um objetivo apropriado, no mundo externo, para aquela necessidade. Em seus contatos, usa a percepção, a memória e o pensamento. O ego é chamado de executivo da personalidade, pois dirige as portas que levam à ação, escolhe os aspectos do ambiente com os quais reagirá e decide quais instintos serão satisfeitos e de que maneira. Ele procura integrar as exigências freqüentemente conflitantes do id, do superego e do mundo externo. Isso não é uma tarefa fácil e às vezes lhe causa ansiedade. Para evitar a ocorrência de ataques de ansiedade, ele aprende a usar vários mecanismos de defesas. Superego é o representante interno dos valores ideais tradicionais da sociedade, como foram interpretados para a criança, por seus pais, e inculcados por meio de recompensas e castigos que se lhe impuseram. Constitui-se no braço moral da personalidade; representa antes o ideal do que o real, empenhando-se mais em obter perfeição do que prazer. O superego tenta inibir os impulsos do id, especialmente os do sexo e da agressão, já que esses são aqueles cuja expressão é mais intensamente condenada pela sociedade. Tenta também convencer o ego a trocar metas realistas por moralistas. Com a formação do superego, o domínio sobre si mesmo substitui a direção dos pais ou externa. Sob circunstâncias comuns, esses princípios divergentes costumam colaborar como um conjunto sob a liderança administrativa do ego. A personalidade funciona normalmente como um todo integrado, muito mais do que como três segmentos separados. RELACAO ENTRE OS TRES SUBSISTEMAS A meta fundamental da psique é manter e recuperar, quando perdido, um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. A energia que é usada para acionar o sistema nasce no Id, que é de natureza primitiva, instintiva. 0 ego, emergindo do id, existe para lidar realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador entre as forças que operam no Id e no Superego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego, atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego. Ele fixa uma série de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último. REFLEXAO PESSOAL 1. Faça uma lista das características desejáveis e indesejáveis de seus pais. 2. Examine, registre e reflita as semelhanças e diferenças. Existem traços comuns entre vocês? FASES PSICOSSEXUAIS DO DESENVOLVIMENTO Freud acreditava que a personalidade é moldada pelas primeiras experiências, quando as crianças passam por um conjunto seqüencial de fases psicossociais. O termo “psicossocial” deriva da idéia de que a libido, que nada mais é do que energia sexual é colocada em regiões corporais diferentes, conforme o desenvolvimento psicológico progride. Três áreas corporais que Freud chamou de zonas erógenas – boca, anus e genitais – respondem intensamente à estimulação do prazer. (Davidoff, 508). Para ele, as fases são experimentos de nossas vidas, dia a pós dia, com uma progressão continua. Em cada fase do desenvolvimento, uma zona é especificamente influente. Essas fases desempenham um papel fundamental na formação da personalidade. Para melhor entendermos este modelo, devemos ter em mente as pulsões biológicas. Durante toda a nossa vida, somos motivados pela necessidade de suprimos nossas pulsões básicas. Para Freud essas pulsões mudam com o decorrer da vida, pois os objetos que a gratificam mudam também. Freud concluiu que existem cinco fases, sendo que as quatro primeiras ocorrem na infância e a última na adolescência como veremos na seqüência. Fase Oral: Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco, mais tarde, dos dentes. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação. Características adultas que estão associadas à fixação parcial na fase oral: fumantes, pessoas que costumam comer demais, gostar de fazer fofoca, sarcasmo. Fase Anal: À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e gratificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro anos, as crianças geralmente aprendem a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. A obtenção do controle fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma nova fonte de prazer. Características adultas que estão associadas à fixação parcial nesta fase: ordem, parcimônia e obstinação. Fase Fálica: É a fase que focaliza as áreas genitais do corpo. É o período em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um. É a primeira fase em que as crianças tornam-se conscientes das diferenças sexuais. Nesta fase é vivida a primeira etapa do Complexo de Édipo (a segunda será vivenciada na adolescência). Na infância, todo complexo é reprimido. Mantê-lo inconsciente, impedi-lo de aparecer, evitar até mesmo que se pense a respeito ou que se reflita sobre ele, essas são algumas das primeiras tarefas do superego em desenvolvimento. Período de Latência: Na idade de 5 a 6 anos até o começo da puberdade, é compreendido como um tempo em que os desejos sexuais não-resolvidos da fase fálica não são atendidos pelo ego e cuja repressão é feita, com sucesso pelo superego. Durante este período, a sexualidade normalmente não avança mais, pelo contrário, os anseios sexuais diminuem de vigor e são abandonadas e esquecidas muitas coisas que a criança fazia e conhecia. Nesse período da vida, depois que a primeira eflorescência da sexualidade feneceu, surgem atitudes do ego como vergonha, repulsa e moralidade, que estão destinadas a fazer frente à tempestade ulterior da puberdade e a alicerçar o caminho dos desejos sexuais que se vão despertando. Fase Genital: A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre com o início da puberdade e o conseqüente retorno da energia libidinal aos órgãos sexuais. Neste momento, meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e interpessoais. Uma pessoa fixada em uma determinada fase preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples ou infantil, ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento normal. Quando uma fase não consegue ser suprida, Freud usa o termo fixação. A fixação esta associada com a regressão, que é a tendência para retroceder a um modo de gratificação anterior, em geral sob stress. O Complexo de Édipo O Complexo de Édipo que ocorre aproximadamente entre os 3-5 anos de idade é uma relação de desejos amorosos e hostis que a criança vivencia em relação aos seus pais no pico da fase fálica. O rival da criança é o genitor do mesmo sexo, pois seu objeto de amor é do sexo oposto. Nessa estrutura triangular a interação entre os desejos inconscientes dos pais e as pulsões da criança desempenha papel fundamental na constituição do cenário edípico. Faz-se necessário uma intervenção do rival, a fim de marcar e limitar o sujeito. Em sua forma completa, num nível inconsciente, ambas as formas coexistem devido à ambivalência da criança e sua necessidade de proteção. A relação dialética entre ambas as formas poderá determinar se o desejo humano seguirá uma orientação homo ou heterossexual. Segundo Freud, a menina é obrigada a admitir sua castração mais rapidamente. Ela passa então a considerar o homem como detentor do falo, ocupando assim uma posição de superioridade. Apesar disso, se rebela contra a possibilidade de não vir a possuir um pênis um dia, passando a invejar o órgão masculino. Desta forma, a sexualidade da menina poderá trilhar três caminhos. São eles: • No primeiro, frustrada pela comparação com os meninos, a menina cresce insatisfeita com seu clitóris e abandona sua atividade fálica e sua masculinidade. • No segundo, ela agarra-se à sua masculinidade ameaçada e até uma idade tardia é movida pela esperança de conseguir um pênis. Esperança esta, que se torna um objetivo e que faz surgir a fantasia de ser um homem. Freud denomina este segundo caminho de complexo de masculinidade, que nas mulheres explicaria uma escolha homossexual manifesta. • O terceiro caminho, a menina atingirá a atitude feminina normal final, tomando então o pai como objeto amoroso. O complexo de castração tem efeito mais tardio no menino e ocorre quando este se lembra das ameaças de castração realizadas por seus pais frente à suas atividades masturbatórias. De forma semelhante com o que ocorre com as meninas nas experiências infantis sexuais, os meninos ao visualizarem o órgão sexual das meninas de sua idade, constatam que estas, ao contrario do que acreditavam, não possuem pênis. Eles porem não se conformam com esta diferença anatômica, e sustentam a fantasia de que as meninas possuem um pequeno pênis que um dia irá crescer. Quando percebe que sua mãe, uma adulta também é desprovida de pênis, o menino se vê angustiado, pois relembra as ameaças de castração feitas por seus pais diante de sua atividade masturbatória. O menino aceita então a interdição da mãe enquanto objeto sexual e reconhece a lei paterna, no intuito de conservar seu pênis. Esta interdição que só é possível pelo efeito do complexo de castração, que destrói o complexo de Édipo nos meninos. Em A Dissolução do Complexo de Édipo (1924d) Freud diz: “Quando o ego não conseguiu provocar mais do que um recalcamento do complexo, este permanece no id no estado inconsciente; mais tarde irá manifestar sua ação patogênica.” O declínio do complexo de Édipo ocorre na entrada do período de latência, que estão relacionados à ameaça de castração nos meninos e ao desejo de ter um bebê nas meninas. Caso o mesmo não seja resolvido nesta fase, será vivenciado na puberdade com muito mais ferocidade. O Complexo de Édipo mantem sua função de um organizador inconsciente durante toda a vida.. REFLEXÃO PESSOAL 1. Faça uma lista das pessoas de que você mais gostou ou que amou em sua vida – excluindo seus pais. Liste homens e mulheres separadamente. 2. Descreva os aspectos desejáveis e indesejáveis de cada pessoa. 3. Examine, registre e reflita sobre as semelhanças e diferenças nas listas. Existem traços em comum entre os homens e mulheres? A Educação Sexual das Crianças Para Freud, as crianças devem receber educação sexual assim que demonstrarem algum interesse pela questão. Essa resposta é de uma decorrência natural do fato de entender que, se já existe na experiência da criança algo de natureza sexual, não há por que negar a ela as informações através das quais poderá dominar, intelectualmente, o que já e conhecido no plano da vivência (Kupfer, 46). Segundo Freud, os pais geralmente procuram esconder com fábulas à verdadeira historia da origem da criança. Utilizam fabulas da cegonha, sapo, fada, com medo de despertarem precocemente a uma sexualidade. O erro dos pais e dos educadores se pela ignorância teórica, facilmente solucionável através do esclarecimento sobre a sexualidade infantil. Freud vai alem, e relata que as praticas educativas são determinadas pelos recalcamentos sofridos pelo educador, que incidem sobre a parte infantil da sua sexualidade (Kupfer, 47). A Aprendizagem Segundo Freud Freud não explorou temas sobre educação, no entanto, gostava de pensar nos determinantes psíquicos que levam alguém a ser um “desejante do saber” Neste contexto entra as crianças, que, a partir de um determinado momento, bombardeiam os pais com por quês (Kupfer, 79). Para Kupfer, devemos buscar resposta para a seguinte pergunta: O que se busca quando se quer aprender algo? A partir desta reflexão poderemos saber o que é o processo de aprendizagem, visto que este depende da razão que motiva a busca do conhecimento. Para Freud o momento fundamental e decisivo na vida do sujeito, se da quando ele descobre a diferença sexual anatômica, a partir deste momento “descobrem” que o mundo se divide em homens e mulheres. Esta descoberta implica a entender que de fato alguma coisa faltava. A criança descobre diferenças que a angustiam. É essa angústia que a faz querer saber (Kupfer, 80). Espera-se que ao final da época do conflito edipiano, o interesse sexual fique reprimido, dando lugar a sublimação. Por não poderem ou estarem mais interessadas em saber sobre sexualidade, procedem por um deslocamento dos interesses sexuais, para objetos não sexuais. Para Freud, esta investigação sublimada, nada mais é do que pulsão de domínio. Para os educadores, nada mais e do que a pulsão do saber.

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